sábado, 28 de abril de 2012

Folhetim 7 - O Mendigo e a Psicóloga


"...Todos sequencialmente se apresentaram, foi quando chegou a vez do especialista em projetos:
--Boa tarde a todos. Meu nome é Hildebrando Munhoz da rocha...
Quando ele terminou de proferir seu nome, ela teve certeza: ela o havia atendido no hospital em que trabalhou no interior. Ele nem de longe se lembrava dela, pois Isa havia envelhecido bastante devido às responsabilidades múltiplas com a casa, os filhos e o emprego. Terminada a reunião, ela dirigiu-se calmamente até ele e perguntou:
-- Você se lembra de mim?
Ele a olhou e respondeu:
-- Realmente, você não me é estranha.
Ela perguntou se ele havia morado na cidade em que ela havia trabalhado. Ele confirmou. Como estavam numa reunião corporativa, apenas trocaram cartões, mas assim que ela saiu do hospital seu celular tocou e reconheceu o número do cartão de Hildebrando. Trocaram apenas algumas palavras e marcaram um encontro para daqui duas horas, assim ela teria tempo pra arrumar uma colega que cuidasse de seus filhos. No horário combinado, ela o avistou sentado numa das confortáveis cadeiras do Café & Bar que ela havia escolhido. Ao trocarem os cumprimentos, ela foi logo ao assunto:
-- E aí, se lembrou de mim?
-- Me lembrei! Você era aquela linda psicóloga do Hospital e Maternidade Santa Casa de Misericórdia, certo? Bem, naquela época eu bebia muito e estava passando por maus bocados, cheguei àquele hospital em situação de rua, mas graças a Deus tudo passou. Não bebo há muitas 24 horas e trabalho na área de projetos há dois anos, ninguém sabe dessa minha fase negra. Marisa, peço que você não comente nada com ninguém pro aqui.
Após escutar tudo calmamente, Isa virou para ele e comentou:
-- Então você confessa que era mesmo aquele homem que estou pensando? Você se lembra do que fez naquele dia?
Marisa estava jogando verde para colher maduro. Ele, olhando-a com uma cara de sedutor de terceira categoria, disse:
-- Sim, me lembro muito bem agora. É sobre a calcinha, né?
Ela afirmou que sim com a cabeça. Sem saber muito bem por onde começar, ela inicou:
--Rapaz, a “insanidade” que você cometeu naquele dia, o furto da calcinha, a rosa e o bilhete, custaram a minha separação.
Ele pegou um petisco, levou à boca e, olhando nos olhos dela, disse:
--Marisa, você se separou porque assim tinha de ser. Não coloque a culpa em terceiros. E outra coisa: se eu não fosse o causador, teria outro em meu lugar. E uma última coisa: você é psicóloga e pode me ajudar, será que aquele fetiche de cheirar calcinha usada provém de algum distúrbio? Me ajude, doutora.
Hildebrando a olhava com cara de sedutor. Ela respondeu-lhe:
Isso é uma pouca vergonha. São defeitos de caráter que você mesmo tem que corrigir.
Ao que ele disse:
-- Mas como, Isa. Será que a psicologia moderna não explica nada sobre esse fetiche? - E, carinhosamente, pegou em sua mão.
Não tinha como negar, o cara era inteligente, sabia como ninguém enquadrar direitinho uma mulher. Usando bem sua malemolência, enquadrou a psicóloga juntos seguiram para o luxuoso apart hotel onde estava morando. No trajeto deram muitas risadas e ele contou a Isa sobre a briga com Joca dentro da lixeira por causa da calcinha.
E, por causa da tal calcinha, da rosinha e do bilhete, eles estão juntos até hoje. Joca faleceu, vítima do alcoolismo, Carlos Antônio continua firme com a mulher e será papai novamente, e Hildebrando é um novo homem. Um homem que está a caminho da felicidade, dentro de sua sobriedade. A fase de mendigo foi um período negro de sua vida, confessado sempre no grupo de autoajuda que frequenta, lugar este que ele visita periodicamente para jamais voltar a beber novamente e passar por situações tão lastimáveis como a de ter sido morador de rua, devido ao uso abusivo de álcool."

Este é um fragmento do Diário de Bordo da Kombi, livro de Paulo Roberto de Souza que será lançado em breve.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Folhetim 6 - O Mendigo e a Psicóloga


"-- Doutora, a senhora é bonita assim mesmo ou fez cursinho?
Fazia muito tempo que ela não ganhava flores de alguém. O relacionamento com o marido Carlos Antônio já estava azedando. Estavam casados há duas décadas, se suportando pela manutenção da família. Isa sem maldade pôs a rosinha junto ao bilhetinho amassado dentro da bolsa. Pretendia dar a florzinha a sua filhinha Adriana, apelidada carinhosamente de Drica. Exatamente às 18 horas, desceu a rampa do hospital e embarcou em seu carro, sem o compromisso de ir à academia naquele dia. Como de costume, passou no supermercado do bairro, comprou frutas e verduras e seguiu tranquilamente para casa. Quando saía do banho, seu celular toca. Pegou-o da bolsa, deixando-a com o zíper aberto, e seguiu para a cozinha. Carlos Antônio, ao sair do banho passou pela sala, viu a bolsa da esposa aberta com uma rosa junto a um bilhete.
Leu e releu, e imediatamente chamou-a a sala, pedindo satisfações pela aparente intimidade com o autor do bilhete. Ela explicou ao marido que havia sido entregue por um mendigo na recepção, que não era sua culpa. Continuou:
-- E outra coisa, é um paciente alcoólatra, morador de rua. Jamais trocaria você por uma pessoa dessas, pensa bem Carlos.
Carlos Antônio não quis estender a discussão, sabia que tinha um mulherão ao lado e nem de longe pensava em perdê-la. Já haviam se separado por ciúme bobo e agora viviam mais em função dos filhos. Pela manhã, Marisa saiu rumo ao trabalho e no meio do caminho o carro pifou, para não chegar atrasada pediu uma carona ao marido. Dez minutos depois, Carlos Antônio a pegou no local combinado e seguiram até o hospital. Durante o percurso os dois não conversaram e Carlos parecia não estar muito legal. O sinal do semáforo fechou e, de dentro do carro, Isa viu Hildebrando sentado no cantinho da calçada com um litro de pinga ao lado, levando constantemente próximo ao nariz a calcinha vermelha com bolinhas brancas. A calcinha que Carlos havia lhe dado no último dia dos namorados.
Ela levou a mão à boca, mas não pode conter os ruídos de espanto. Carlos notou o gesto da mulher e quebrou o gelo do percurso com extrema insatisfação:
-- É esse o mendigo da rosinha e do bilhete? – olhando bem para a calcinha na mão do bêbado, voltou-se novamente na direção da esposa – O que mais tem nessa história, porra?
Ela pediu calmamente:
-- Por favor, me deixe trabalhar em paz, Carlos. Sou psicóloga, tente me entender. Tenho que estar bem para atender os pacientes. Conversaremos a noite.
Carlos Antônio não fez o trajeto habitual. Desconfiado, voltou para casa a fim de vasculhar as gavetas do guarda-roupa para ver se a calcinha vermelha com bolinhas brancas estava dentro. A noite chegou e o pau fechou. Carlos pôs-se a falar da desconfiança em relação aos médicos bonitões do hospital, e em seguida perguntou sobre a calcinha que havia dado a ela.
-- Cadê a calcinha que lhe dei no dia dos namorados?
Marisa ficou com uma única saída: relatar ao marido sobre o caso de emergência no quarto 104, no qual atendeu Seu Davi, falando também que havia sido neste mesmo dia que perdeu a calcinha. Havia confirmado somente hoje pela manhã na ida para o trabalho, que havia sido furtada pelo infeliz do Hildebrando. Tentou explicar tudo a um Carlos enfurecido. Carlos, depois de toda a tentativa da esposa, disse:
-- Vou ao bar. Na volta, a gente conversa.
Quando voltou, notou que ela havia pegado seu carro e as crianças, e deixado um bilhete em cima da mesa, antes de ir para a casa dos pais. No bilhete, a seguinte frase: “Carlos, por favor, não me procure mais. Não suporto mais ser acusada de coisas que não fiz.”.
Para encurtar a história, acabaram se separando e hoje Carlos está casado novamente com uma ex-empregada doméstica, com quem ele já mantinha um romance paralelo desde que havia começado a trabalha em outra cidade. Os anos se passaram e Marisa se dedicava unicamente aos dois filhos, quando lhe convidaram para trabalhar em um novo hospital, numa cidade com quase 600 mil habitantes. Ela aceitou prontamente. Quase seis meses passados desde a inauguração do hospital, o diretor comunicou à equipe técnica sobre a vinda de um especialista em projetos para captação de verbas junto ao Governo Federal. Foi marcada uma reunião com a equipe e o tal especialista.
Quando todos sentaram à mesa, Marisa olhou fixamente para o especialista e reconheceu vagamente seus traços, porém sem lembrar nitidamente sobre quem seria o cidadão. O diretor do hospital pediu a todos que fizessem uma auto-apresentação. Todos sequencialmente se apresentaram, foi quando chegou a vez do especialista em projetos:
-- Boa tarde a todos. Meu nome é..."

sábado, 21 de abril de 2012

Resgate Social realiza cerca de 500 atendimentos no primeiro trimestre do ano


A Secretaria de Desenvolvimento e Inclusão Social divulgou no fim de semana o relatório do Resgate Social, revelando que o número de atendimentos, só no primeiro trimestre do ano chegou a 480. Janeiro consta como o maior índice, apontando 182 casos. Das 480, 300 pessoas foram encaminhadas para a Casa do Migrante e outras 40 seguiram para centros de recuperação.
Paulo Roberto, diretor do Resgate Social revela também que ao longo do trimestre foram doadas 200 passagens rodoviárias às pessoas resgatadas, para que retornassem às cidades de origem. Também foi possível notar o aumento de registro de surtos psicóticos. Paulo ainda ressalta que a maioria dos atendimentos sucessivos a transtornos são de pessoas de classe média.
Segundo o diretor, a maioria das pessoas com transtornos, após atendimento imediato, é encaminhada para o Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS), onde os profissionais capacitados iniciam levantamento sensato, a fim de iniciar o tratamento adequado a cada caso.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Folhetim 5 - O Mendigo e a Psicóloga

"...Lá embaixo, um táxi estacionava em frente ao hospital. Ele aproveitou-se da situação e, assim que a passageira desembarcou, entrou no tá"xi e disse estar saindo àquela hora do hospital, pediu uma carona até o asfalto, pois a rampa estava lisa. Enquanto contava a história mostrava a perna machucada. Desembarcou no asfalto e seguiu direto para a lixeira do prédio. Chegando lá teve uma surpresa: o Joca, seu companheiro de “inteira” na birita já estava ocupando o espaço. Não acreditou, deu dois cutucões no pé do Joca, que num espanto, se levantou resmungando. Hildebrando o mandou embora. Joca tinha uma garrafa de cachaça e ofereceu um gole ao antigo parceiro de porre que, pela primeira vez desde que se conheciam, não aceitou. Hildebrando nunca havia rejeitado sequer um gole. Hildebrando queria a lixeira só pra si, pois queria dar um cheiro na calcinha e, através de uma nuance entrar em transe e... E foi o que fez. Em sua mente havia transado com a dona da calcinha, então dormiu “aliviado”. Pode uma coisa dessas?
Marisa, assim que chegou ao hospital, recebeu a encomenda das mãos de sua colega Natali. Ao chegar à sua sala, logo abriu a sacolinha e encontrou dentro a rosinha mirrada e o bilhete bem escrito com letras bastante destacadas no papel desbotado. Leu, releu o bilhete e aí, juntando o quebra-cabeça chegou à conclusão de que Hildebrando tinha sua calcinha usada, já que no bilhete, ele revelada estar com um pedaço da psicóloga. Que ousadia, pensou. Era mais caso em seu ambiente de trabalho, mas este havia extrapolado por invadir sua privacidade. Pensava incrédula, um mendigo furtar a calcinha usada da psicóloga e fugir do hospital?! Essa nem Freud explicaria...
 No dia seguinte Hildebrando foi até o mocó do Joca. Estava louco para tomar umazinha. Chegando, Brando foi logo sendo questionado pelo amigo Joca do por que da expulsão da lixeira na noite anterior. Brando falou que até explicaria, mas antes precisava tomar um gole. E assim foi atendido pelo amigo, ainda meio desconfiado. Depois que Brando tomou uns três goles, criou coragem e confessou ao amigo o que realmente acontecera. Contou tim-tim por tim-tim o desenrolar do furto da calcinha da psicóloga. Depois dos goles, já embriagado e se “achando”, fez uma grande propaganda do cheirinho da peça íntima em questão. A propaganda aguçou o olfato de Joca que já imaginava dar um cheiro também. Assim como Brando, Joca também estava há muito tempo sem mulher.
Continuaram bebendo, porém Joca apenas fingia que acompanhava o amigo nos goles.
 Aquele papo de cheirar calcinha usada havia mexido com sua cabeça, e ele já tinha completado cinquenta anos e nunca tinha tido esse tipo de fetiche. Foi até o fundo do quintal, pegou dois limões do pé e voltou dizendo a Brando que faria uma caipira para os dois. Fez a de Hildebrando bem forte e com bastante açúcar, e a dele fez com água mesmo. Joca era safado e mentiroso. Após duas de conversa, Brando esta com os olhos turvos e sentindo vontade de ir embora, a fim de dormir novamente. Joca se ofereceu para levar o amigo até a lixeira. Chegando ali, Brando se lembrou de mostrar sua última conquista ao amigo, a calcinha da psicóloga. Tirou-a da sacolinha, deu uma cheirada e passou próximo ao nariz de Joca, que simplesmente adorou.
Fazia muito tempo que ele não sentia aquele cheiro e queria emprestada para levar a seu mocó. Brando achou aquilo uma ofensa, uma falta de respeito e tocou o amigo da lixeira mais uma vez, que implorou pelos anos de amizade. Vendo que não conseguiria o objeto de prazer de Hildebrando, Joca gritou da rua:
-- Seu filho da puta. Vê se não aparece mais no meu “mocó”, interesseiro do cacete!
Dois homens brigando dentro de uma lixeira por causa de uma calcinha usada, soa como ato de gente insana. Mas todo alcoólatra com o tempo, vai se tornando insano. Voltando ao caso da psicóloga Marisa, ela tinha sempre o cuidado de deixar sua mesa organizada para o dia seguinte e, ao pegar a rosinha que estava enroscada no bilhete para jogar no lixo, pensou nas palavras que o mendigo lhe havia dito no dia de sua primeira visita ao quarto 104..."

Este é um fragmento do livro Diário de Bordo da Kombi, que será lançado em breve. 

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Roteiro de De Mendigo a Milionário finalizado

Foi entregue na tarde da última terça-feira, dia 10 de abril de 2012, em Balneário Camboriú, o roteiro cinematográfico do filme, “De Mendigo a Milionário”, uma adaptação do livro autobiográfico de Paulo Roberto de Souza. O próximo passo agora será a realização do Casting que definirá os atores que irão interpretar o drama.
A argentina Henilce Boguetti, representante da Trotamundos Films no Brasil, recebeu das mãos da contadora de histórias e roteirista chilena Milka Plaza, o roteiro pronto e adaptado para as telas de cinema. Também estavam presentes no ato de entrega, o Diretor de Cinema e Artista visual Julião Goulart , a escritora e Diretora de eventos internacionais, Berenice Dumbar e Paulo Roberto de Souza, escritor e protagonista da drama. Da selva de Roraima (RR), onde grava cenas de um novo filme, o cineasta e produtor Santiago Ramos da Trotamundos Films de Balneário Camboriú, acompanhou toda a reunião por telefone. “Nossa previsão é que o filme esteja pronto para exibição em junho de 2013”, frisou Ramos.

O inicio das filmagens está prevista para acontecer em meados de junho de 2012, com duração de aproximadamente 12 meses. A produção terá a qualidade Full HD (Full High Definition), ou seja com resolução máxima, para ser exibido em plataforma de mídias ( cinema, TV, programas de celular, etc.). A verba que dará início as filmagens virá do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e Petrobrás

“ Quase não estou nem acreditando”, conta Paulo Roberto de Souza, ao receber o roteiro do filme que resume a trajetória de sua conturbada vida.

A produção cinematográfica, baseada no livro “De Mendigo a Milionário”, contará a incrível história de um homem nascido numa abastada família de produtores de café do norte do Paraná, consumida pela dependência do álcool. Em detalhes mostrará a vida e a história de superação de um homem contra o alcoolismo.
O filme mexerá com o emocional do público, buscando polemizar a sociedade mundial na luta contra o consumo desenfreado do álcool. “Meu desejo, ao decidir levar minha história de vida aos cinemas, é contribuir na luta contra o alcoolismo, mal que destrói milhões de vidas todos os dias no mundo“, ressaltou Paulo Roberto.

(Release oficial P. M. de Balneário Camboriú)

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Folhetim 4 - O Mendigo e a Psicóloga


"...Foi quando ele ouviu uma das enfermeiras a despedir-se do que seria seu novo companheiro de quarto:
-- Tchau, Seu Davi. Amanhã às 09h30min da manhã a psicóloga virá ter com o senhor.
No mesmo instante, Hildebrando pensou com seus botões sobre a psicóloga vir ter com ele também. Já passava das 17h30min quando o médico foi chamado às pressas ao quarto 104. Em conversa com o Seu Davi pode perceber que ele não estava psicologicamente bem e pediu para chamar a psicóloga antes que encerrasse seu expediente. Quando a encontraram, estava no fim de um banho pois era dia de frequentar a academia. Uma colega de trabalho abriu a porta do banheiro feminino e disse, em voz alta:
-- Marisa, o doutor disse que precisa de um laudo ainda hoje, do paciente do 104!
-- Ok. Já irei lá, só vou terminar de me vestir. Obrigada amiga.
-- De nada Isa – devolveu a colega.
Isa era o apelido pelo qual era mais conhecida. Isa era estimada pro todos do hospital.
Após vestir-se, finalizar com o jaleco branco, pegou a calcinha usada que estava pendurada no box e pôs no bolso direito do jaleco. Foi ao balcão da enfermaria, pegou sua prancheta e se dirigiu ao quarto 104, a fim de dar o último atendimento do dia, ansiosa por relaxar um pouco da rotina de trabalho e da rotina de casa.
Chegando ao quarto notou que Seu Davi estava surtando e realmente precisava de atendimento psicológico urgente. Enquanto a enfermeira e a psicóloga ajeitavam o paciente, o malandro do Hildebrando notou um pedacinho da calcinha vermelha da psicóloga dentro do bolso do jaleco e, sutilmente, com a ponta dos dedos pegou-a, sem que ela percebesse, e pôs dentro da cueca. Após o atendimento, Isa voltou ao vestiário e, ao tirar seu jaleco percebeu que a calcinha não estava mais no bolso. Voltou ao quarto 104 fazendo o mesmo trajeto anterior na esperança de encontra-la pelo chão, mas foi em vão. Entrou no quarto olhando em cada ponto do chão, nos cantos da maca quando Hildebrando, olhando-a fixamente, perguntou:
-- Perdeu alguma coisa, Doutora?
Ela, sem saber como se safar da questão, respondeu:
-- Não, não perdi nada.
Saiu pelo corredor novamente, em direção ao vestiário, sem encontrar a peça íntima. Pegou sua mochila e, sem querer se atrasar para a aula de “body jump”, desceu a rampa a passos largos.
Hildebrando não acreditava no que tinha acontecido. Seus planos, ao que parece, haviam mudado a partir de então. Até a perna esquerda, antes dolorida, havia-se curado. Ele pôs-se a pensar sobre como ficaria ali, com uma peça íntima usada por uma gata daquelas. Estranho mas verdadeiro, o fato de ela ser psicóloga mexia ainda mais com a mente do mendigo. Então começou a agir. Deu o desodorante e o livro para Seu Davi, colocou uma bermuda, pegou uma camiseta na sacola do enfermo e saiu de fininho pela porta que levava ao jardim.
Desceu calmamente a rampa declinada do hospital e, após chegar ao ponto de ônibus mais próximo sentou-se na mureta para descansar as pernas. Percebeu que ali, próximo ao poste iluminado havia um pequeno pé de rosas, por coincidência eram vermelhas. Não titubeou e colheu a rosinha vermelha. Ao lado do ponto de ônibus havia uma lanchonete, então se dirigiu para lá e, passando o mesmo migué de sempre, conseguiu uma dose de pinga. Tomou sua dose vagarosamente, estava chovendo, pediu um pedaço de papel e caneta e escreveu:
--Isa, foi bom tê-la conhecido, levo um pedacinho de ti. Você é linda. Um beijo do Hildebrando.
Tomou mais um gole do copo de outro cachaceiro conhecido e resolveu subir a rampa molhada do hospital, mas não sem antes pedir duas sacolinhas plásticas: uma para a rosinha com o bilhete e a outra para acondicionar a calcinha num lugar fechado, a fim de que a fragrância não saísse. Lá foi ele, ora andando, ora mancando, ora segurando no muro, mas conseguiu enfim chegar à recepção. Quem estava na recepção no momento era a radiologista Natali, uma gauchinha de Alegrete. Loira, olhos azuis, um escândalo de linda, como dizia Hildebrando. Eles já se conheciam de vista. Entregou a sacolinha e pediu com toda educação que, por gentileza entregasse à psicóloga. E assim foi feito, sem nenhuma objeção. Despediu-se de Natali e se foi. Lá de cima, avistou o prédio abandonado onde pretendia passar a noite. Não dormiria no prédio, mas na lixeira que ainda não havia sido usada.
Lá embaixo, um taxi estacionava em frente ao hospital..."


Este é um fragmento do livro Diário de Bordo da Kombi, livro de Paulo Roberto de Souza. 

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Ajude o próximo



mendigo 
s. m.
1. Aquele que pede esmola para viver.
2. Pedinte, indigente.


Mendigo é uma palavra cuja definição pode ser facilmente encontrada no dicionário. Mendigo pode estar no dicionário, mas não precisa continuar nas ruas. O Resgate Social de Balneário Camboriú se preocupa em dar a essas pessoas assistência das mais variadas formas, de acordo com as necessidades. Conhece alguém no município que se encontra em instabilidade social? Contate-nos!

Contato Paulo Roberto de Souza: (47)3363-2745


Fontes: Dicionário Priberam e google banco de imagens

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Folhetim 3 - O Mendigo e a Psicóloga


"...Ao ser questionado pela psicóloga sobre onde morava, foi sincero consigo mesmo pela primeira vez e disse a ela que estava em situação de rua, e que passou dias dormindo numa lixeira. A profissional questionou a fim de saber se era verdade e ele, sem cerimônias contou um pouco de sua vida.
A doutora ficou muito impressionada com sua história. Como poderia um grande mecânico de avião, que já fora empregado em grandes empresas, conhecedor de vários países, poliglota que, com apenas trinta e poucos anos já se encontrava numa situação de mendicidade? Ele não admitiu a ela que era um alcoólatra, mas em partes porque também não sabia. A psicóloga ficou com a pulga atrás da orelha e fez mais uma pergunta:
-- Como pode morar numa lixeira e estar aqui perfumado e com camisa limpinha, lendo um livro?
Olhando para os belos olhos verdes da moça, Hildebrando revelou que ganhara de um paciente que já tinha recebido alta, e que suas roupas velhas estavam guardadas em um saco de lixo dentro do banheiro. Ela foi até a lixeira para constatar a dura realidade do pobre coitado. Ao finalizar seu questionário, comunicou-lhe de que o médico que estava que cuidava de seu caso viria no dia seguinte por volta das 10 da manhã, para conversar com ele sobre quando receberia alta. A psicóloga, ao dirigir-se a porta, desejou-lhe boa leitura, mas antes que saísse ouviu a voz de Hildebrando:
-- Por gentileza, posso lhe fazer uma pergunta antes que se vá?
A psicóloga, surpresa respondeu:
-- Pode sim, imagina!
Hildebrando, meio vacilante, continuou:
-- Você é bonita assim mesmo ou fez cursinho?
A cantada boba do mendigo balançou a mente da psicóloga, deixando-a sem jeito, apesar de saber que era bonita. Sem saber como sair da sinuca de bico, desejou novamente boa leitura ao mendigo e antes que fechasse a porta, Hildebrando conseguiu retrucar novamente:
-- Doutora, se tiver em sua casa algum livro velho de Sigmundo Freud, Jean Piaget, Carl Jung – todos da área da psicologia – ou alguém da sociologia como Emile Durkhein, Mar Weber, Celso Furtado, por favor me traga.
Ali ele exibiu sua cultura decoreba e, é claro, impressionou muito aquela profissional. A psicóloga fechou a porta sem dizer sim ou não, pois não queria dar confiança aos pacientes. Já teve muitos problemas no passado por dar muita atenção e amor aos pacientes mais carentes. Infelizmente eles, às vezes confundem, ao verem uma linda mulher morena de olhos verdes, esguia lhe tratando com carinho. Ela já estava acostumada com galanteios de médicos a mendigos, dentro e fora do hospital, mas já estava vacinada.
Hildebrando voltou à leitura e após o almoço, tirou uma soneca a fim de recompor-se, já que estava sozinho no quarto. Acordou somente no horário do café, com um simpático “Olá” das enfermeiras, convidando-o a acordar-se para os medicamentos e tomar um nescauzinho. Enquanto tomava seu chocolate quente de hospital, chegou uma maca com um paciente todo quebrado. Seria um novo companheiro de quarto?..."

Este é um fragmento do livro Diário de Bordo da Kombi, escrito por Paulo Roberto de Souza que será publicado em breve.