quarta-feira, 18 de abril de 2012

Folhetim 5 - O Mendigo e a Psicóloga

"...Lá embaixo, um táxi estacionava em frente ao hospital. Ele aproveitou-se da situação e, assim que a passageira desembarcou, entrou no tá"xi e disse estar saindo àquela hora do hospital, pediu uma carona até o asfalto, pois a rampa estava lisa. Enquanto contava a história mostrava a perna machucada. Desembarcou no asfalto e seguiu direto para a lixeira do prédio. Chegando lá teve uma surpresa: o Joca, seu companheiro de “inteira” na birita já estava ocupando o espaço. Não acreditou, deu dois cutucões no pé do Joca, que num espanto, se levantou resmungando. Hildebrando o mandou embora. Joca tinha uma garrafa de cachaça e ofereceu um gole ao antigo parceiro de porre que, pela primeira vez desde que se conheciam, não aceitou. Hildebrando nunca havia rejeitado sequer um gole. Hildebrando queria a lixeira só pra si, pois queria dar um cheiro na calcinha e, através de uma nuance entrar em transe e... E foi o que fez. Em sua mente havia transado com a dona da calcinha, então dormiu “aliviado”. Pode uma coisa dessas?
Marisa, assim que chegou ao hospital, recebeu a encomenda das mãos de sua colega Natali. Ao chegar à sua sala, logo abriu a sacolinha e encontrou dentro a rosinha mirrada e o bilhete bem escrito com letras bastante destacadas no papel desbotado. Leu, releu o bilhete e aí, juntando o quebra-cabeça chegou à conclusão de que Hildebrando tinha sua calcinha usada, já que no bilhete, ele revelada estar com um pedaço da psicóloga. Que ousadia, pensou. Era mais caso em seu ambiente de trabalho, mas este havia extrapolado por invadir sua privacidade. Pensava incrédula, um mendigo furtar a calcinha usada da psicóloga e fugir do hospital?! Essa nem Freud explicaria...
 No dia seguinte Hildebrando foi até o mocó do Joca. Estava louco para tomar umazinha. Chegando, Brando foi logo sendo questionado pelo amigo Joca do por que da expulsão da lixeira na noite anterior. Brando falou que até explicaria, mas antes precisava tomar um gole. E assim foi atendido pelo amigo, ainda meio desconfiado. Depois que Brando tomou uns três goles, criou coragem e confessou ao amigo o que realmente acontecera. Contou tim-tim por tim-tim o desenrolar do furto da calcinha da psicóloga. Depois dos goles, já embriagado e se “achando”, fez uma grande propaganda do cheirinho da peça íntima em questão. A propaganda aguçou o olfato de Joca que já imaginava dar um cheiro também. Assim como Brando, Joca também estava há muito tempo sem mulher.
Continuaram bebendo, porém Joca apenas fingia que acompanhava o amigo nos goles.
 Aquele papo de cheirar calcinha usada havia mexido com sua cabeça, e ele já tinha completado cinquenta anos e nunca tinha tido esse tipo de fetiche. Foi até o fundo do quintal, pegou dois limões do pé e voltou dizendo a Brando que faria uma caipira para os dois. Fez a de Hildebrando bem forte e com bastante açúcar, e a dele fez com água mesmo. Joca era safado e mentiroso. Após duas de conversa, Brando esta com os olhos turvos e sentindo vontade de ir embora, a fim de dormir novamente. Joca se ofereceu para levar o amigo até a lixeira. Chegando ali, Brando se lembrou de mostrar sua última conquista ao amigo, a calcinha da psicóloga. Tirou-a da sacolinha, deu uma cheirada e passou próximo ao nariz de Joca, que simplesmente adorou.
Fazia muito tempo que ele não sentia aquele cheiro e queria emprestada para levar a seu mocó. Brando achou aquilo uma ofensa, uma falta de respeito e tocou o amigo da lixeira mais uma vez, que implorou pelos anos de amizade. Vendo que não conseguiria o objeto de prazer de Hildebrando, Joca gritou da rua:
-- Seu filho da puta. Vê se não aparece mais no meu “mocó”, interesseiro do cacete!
Dois homens brigando dentro de uma lixeira por causa de uma calcinha usada, soa como ato de gente insana. Mas todo alcoólatra com o tempo, vai se tornando insano. Voltando ao caso da psicóloga Marisa, ela tinha sempre o cuidado de deixar sua mesa organizada para o dia seguinte e, ao pegar a rosinha que estava enroscada no bilhete para jogar no lixo, pensou nas palavras que o mendigo lhe havia dito no dia de sua primeira visita ao quarto 104..."

Este é um fragmento do livro Diário de Bordo da Kombi, que será lançado em breve. 

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